Um acordo Estados Unidos-Austrália sobre minerais críticos e terras raras é visto pelo setor privado como pista do que pode ser negociado com o Brasil após a reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump.
O entendimento foi anunciado pela Casa Branca, na segunda-feira (20), ao fim de um encontro entre Trump e o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, em Washington.
O acordo para a “garantia do abastecimento” de minerais críticos e terras raras prevê investimento e apoio tecnológico dos Estados Unidos para o desenvolvimento do setor, na Austrália, inclusive com a pretensão de processar o minério bruto.
Esse é justamente um dos pontos mais citados por Lula, que tem procurado enfatizar o desejo brasileiro de “não reproduzir a condição de meros exportadores de commodities”.
“Queremos agregar valor em nosso território, com responsabilidade ambiental e respeito às comunidades locais”, disse Lula, na quinta-feira (23), às vésperas da reunião com Trump.
O governo americano tem sinalizado interesse em discutir o fornecimento de minerais críticos e terras raras com o Brasil, embora o tema ainda não tenha surgido formalmente como demanda da Casa Branca.
O acordo Estados Unidos-Austrália prevê uma seleção de projetos prioritários, fortalecimento de cadeias produtivas e o financiamento de US$ 1 bilhão para desenvolver jazidas.
Dois dispositivos do entendimento são de especial interesse dos americanos. Um é sobre mecanismos de preços, com compromissos de práticas não desleais. E outro sobre venda de ativos, em que os australianos prometem impedir transferência de jazidas essenciais por “motivo de segurança nacional”.
Embora os termos sejam vagos, eles surgem em um contexto de restrições da China à exportação de terras raras para os Estados Unidos, o que pode complicar o funcionamento da indústria americana.
China, Brasil, Índia, Austrália e Rússia detêm — nessa ordem — as maiores reservas globais de terras raras.
No Brasil, a venda dos ativos de níquel — considerado um dos minerais críticos — da Anglo American à chinesa MMG (subsidiária da estatal chinesa China Minmetals) tem suscitado discussões.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) abriu processo para investigar se houve ato de concentração que prejudica a concorrência no mercado.
O negócio foi fechado por US$ 500 milhões e provocou controvérsia porque a Corex Holding, ligada ao grupo turco Yildirim, ter dito que apresentou uma proposta de maior valor — de supostamente US$ 900 milhões.
A empresa contesta a venda à chinesa MMG no Brasil e na União Europeia, alegando risco de concentração de mercado e ameaça à segurança de suprimento para países ocidentais.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, terá encontro nesta semana com o secretário americano de Energia, Chris Wright, à margem de reunião setorial do G7 no Canadá.