O funcionamento efetivo da ONU (Organização das Nações Unidas) está sendo inviabilizado pela crescente rivalidade geopolítica e pela intensa competição política entre as potências globais. Essa foi a principal conclusão do cientista político Heni Ozi Cukier, o Professor HOC, durante sua participação no programa ‘WW Especial’, da CNN, que debateu a crise do multilateralismo e a perda de relevância da organização em seus 80 anos de existência.
Em sua análise, o professor Cukier sublinhou que a falha da ONU em agir não se deve a um defeito da entidade em si, mas sim à falta de diálogo entre seus membros. Ele enfatiza que a organização é inseparável de seus participantes.
“A ONU não é um ente independente, autônomo, separado dos 193 países. A ONU é composta pelos seus 193 países”, destaca.
Segundo o cientista político, a entidade, portanto, serve como uma plataforma que permite a conversa. Contudo, quando os interesses nacionais e a rivalidade se sobrepõem, o sistema desmorona.
“Se a ONU não funciona, na verdade são os países que não conseguem conversar, não conseguem dialogar. A ONU oferece a plataforma para os países conversarem. Mas quando os seus interesses falam mais alto, ela vai perdendo importância”, declarou o cientista político.
O fim do período de calmaria
HOC aponta que a ONU vivenciou um período de relativa unidade e apaziguamento, um hiato que se estendeu do final da Guerra Fria até o início do século XXI. Durante esse tempo, ainda segundo ele, mesmo após os atentados de 11 de setembro de 2001, que ele denomina de a “era do terrorismo”, e a intervenção americana no Afeganistão trouxeram algum elemento de unidade e apoio multilateral.
No entanto, para o Professor HOC, essa calmaria geopolítica foi, em grande parte, resultado de uma transição de poderes, em que a China ainda não havia atingido seu atual tamanho e a Rússia estava em processo de reorganização. “Quando as nações voltam a se sentir mais confiantes e seguras, a ONU perde a sua força”, observa.
O “condomínio” impossível do Conselho de Segurança
Para o especialista, o principal obstáculo reside no Conselho de Segurança, o que ele chamou de “condomínio”. Ele aponta que a impossibilidade de a ONU funcionar eficazmente se baseia diretamente na incapacidade desse conselho, composto pelos membros permanentes e rotativos, de operar em conjunto.
O professor é categórico ao afirmar que, no estado atual, é impossível haver unidade dentro do Conselho de Segurança. “O Conselho de Segurança não tem como agir em unidade. Nada vai acontecer ali dentro, no estado atual de competição política e rivalidade geopolítica entre os dois lados”.
O cientista político avalia que essa rivalidade impede que os 15 membros (permanentes e rotativos) funcionem em conjunto. Heni Ozi Cukier chega a descartar a possibilidade de um consenso total entre todos os 193 integrantes da ONU, dada a diversidade de culturas, valores e histórias.
“Eu nem estou imaginando a utopia dos 193 chegarem em algum consenso, porque é muita cultura, é muito valor, é muita história diferente”, disse ele, reforçando que o foco deveria estar na união dos cinco permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia).
Em última análise, o professor alerta para as consequências históricas do fracasso multilateral. “A história mostra que se a gente tiver um grande conflito maior, global, a ONU morre.”
WW Especial
Apresentado por William Waack, programa é exibido aos domingos, às 22h, em todas as plataformas da CNN Brasil.
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