Após dura derrota eleitoral sofrida na província de Buenos Aires, o presidente da Argentina, Javier Milei, convocou uma “mesa política nacional” — uma espécie de encontro para diversas correntes políticas discutirem o futuro do país. No entanto, este movimento, segundo o cientista político Thiago Vidal, diretor de análise política para a América Latina da consultoria Prospectiva, deveria ter ocorrido bem antes.
Em entrevista ao jornal WW, da CNN, Vidal criticou a estratégia do governo Milei e apontou as razões sistêmicas por trás do revés eleitoral.
“Milei esperou a derrota para fazer o que ele deveria ter feito antes das eleições. Ele apostou que o seu slogan e as suas bandeiras de governo, que foram obviamente muito bem-sucedidas em 2023 e têm sido bem-sucedidas na primeira metade do seu mandato, seriam por si só suficientes para eleger uma grande bancada de deputados e senadores locais na província de Buenos Aires, e não foi o que aconteceu”, afirmou o cientista político.
Para Vidal, as razões da derrota não são “conjunturais”, como o escândalo de corrupção envolvendo sua irmã, Karina Milei, em um esquema de propina na Agência Nacional para a Deficiência (ANDIS) e o caso $LIBRA, que resultou em uma investigação sobre suposta fraude financeira envolvendo uma criptomoeda.
“Me parece que as razões principais são as razões sistêmicas, a dificuldade do governo Milei de fazer política de um lado e, de outro, o próprio êxito do peronismo na província de Buenos Aires, que fortaleceu sua estrutura local para conter o avanço do partido de Milei, A Liberdade Avança”, destacou Vidal.
O analista detalhou o que considera a falha de Milei em fazer política. “Durante a primeira metade de seu mandato, o presidente se afastou de parte da direita tradicional argentina, que, embora esteja em descrédito, ainda é muito significativa, sobretudo em regiões do interior do país”, explicou o diretor da Prospectiva.
“Esses dissidentes, esses descontentes com o governo Milei, com os quais o próprio Milei tem rompido ou pelo menos dos quais tem se afastado, resolveram lançar uma espécie de ‘terceira via’ composta por coalizões locais, que foi bem-sucedida em muitas eleições provinciais e na eleição de domingo, em Buenos Aires”, acrescentou.
Essa terceira via a qual o cientista político se refere é o partido Somos Buenos Aires, que levou 5% dos votos. Para Thiago Vidal, sem a presença dessa alternativa, o cenário eleitoral poderia ter sido diferente.
“Embora não pareça um número expressivo, mascara uma série de sessões eleitorais onde o Milei perdeu. Se não fosse essa terceira via, muito provavelmente ele teria levado ou diminuído significativamente a diferença em relação aos peronistas”, concluiu.