Lar Região Lula-Trump: Setores afetados por tarifaço se dividem entre alento e cautela

Lula-Trump: Setores afetados por tarifaço se dividem entre alento e cautela

por joaonakamura
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A possibilidade de o aceno de Donald Trump a Lula abrir “um diálogo de alto nível” e uma “reaproximação estratégica” são expectativas compartilhadas por alguns dos principais setores afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos, com esses exatos termos se repetindo na comunicação de cada um.

“A retomada do diálogo em alto nível é fundamental para reaproximar Brasil e Estados Unidos em um momento de tensões comerciais e tarifas elevadas sobre produtos brasileiros”, escreve a CNI (Confederação Nacional da Indústria) em nota.

“Essa reunião entre os presidentes pode representar uma oportunidade de reaproximação estratégica, capaz de reduzir barreiras, ampliar a cooperação em áreas de inovação e sustentabilidade e reforçar a segurança jurídica para investimentos de longo prazo”, pontua o presidente da entidade, Ricardo Alban.

Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café), também reproduz o discurso: “É uma possibilidade de reaproximação estratégica, de fortalecer o relacionamento, a cooperação; investimentos nas duas vias em importantes áreas de inovação tecnológica, de sustentabilidade; reforçar a importância do mercado do café brasileiro para o mercado do café norte-americano e termos investimentos e previsibilidade de longo prazo”.

A Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio do Brasil) tem a expectativa de que o encontro ocorra nos próximos dias e reforça que deve abrir “caminho para um diálogo estruturado e de alto nível sobre temas econômicos e comerciais, capaz de construir soluções negociadas para os desafios existentes nas cadeias produtivas, nos fluxos de comércio e nos investimentos bilaterais”.

“Química excelente”

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), está nos Estados Unidos para a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), sediada em Nova York. Seguindo a tradição da Assembleia, o brasileiro subiu ao palanque antes do anfitrião norte-americano.

Lula disse que atentados à soberania e sanções estão se tornando regra e, em recado a Trump – mas sem citá-lo nominalmente – e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), defendeu o Judiciário brasileiro.

Em seguida, Trump surpreendeu a todos: “Nós [o presidente dos EUA e o do Brasil] não tivemos muito tempo para falar aqui, foram tipo, 20 segundos, mas conversamos, tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na semana que vem, se for do seu interesse. Ele parecia um homem muito legal, na verdade, ele gostava de mim, eu gostava dele. E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto. Tivemos ali uma química excelente e isso foi um bom sinal”.

A surpresa foi boa e tanta que impulsionou o mercado: o Ibovespa fechou acima dos 146 mil pontos pela primeira vez, renovando recorde pela sétima vez no mês e a 14ª no ano; enquanto o dólar caiu a R$ 5,27, no menor valor desde 6 de junho de 2024.

“O gatilho do forte movimento veio do noticiário político internacional. […] Sem dúvidas, acredito que essa sinalização de aproximação entre os dois líderes reduziu a percepção de risco diplomático e abriu fluxo comprador em ativos brasileiros”, observou José Áureo Viana, sócio da Blue3 Investimentos.

Voltando ao setor privado, a CNI destacou ter recebido a abertura de Trump a Lula “com entusiasmo”, enquanto a Amcham apontou para o fato de esse ser um “passo positivo” para as negociações.

O futuro, porém, ainda é incerto para parte do empresariado.

Pé atrás

As portas da Casa Branca podem ter sido abertas a Lula, mas para quem olha de fora ainda há um risco sobre o que pode acontecer a partir do momento que os dois iniciarem o diálogo de fato.

O temor é compartilhado dentro do próprio corpo diplomático brasileiro, que teme um “efeito Zelensky” e busca manter a cautela ante a reunião. Em reunião com Trump no começo do ano, o líder ucraniano foi repreendido ao vivo para o mundo pelo presidente dos EUA, teve um almoço planejado cancelado e foi abruptamente convidado a deixar a Casa Branca.

“É bom [que tenha essa aproximação], mas o setor observa com pé atrás, não sabemos o que vai acontecer entre o início da conversa até o fim, pode começar bem e terminar péssima. Então, não adianta nem comemorar e nem criar expectativa, a gente tem que ter tranquilidade, torcer para que haja qualquer tipo de avanço”, relatou à CNN Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira da Indústria de Pescados).

Os exportadores de pescados são alguns dos mais impactados pelo tarifaço uma vez que praticamente a integralidade de seus envios são aos EUA. Lobo lamenta que a vida “não está fácil” e projeta que as exportações do setor vão cair em torno de 65% em setembro na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), ressalta que “é muito precoce falar no que isso pode se transformar”.

“Temos que esperar alguns dias para saber se vão operacionalizar, mas tomara que seja um ‘quebra gelo’. Deveria aguardar mais alguns dias para ver o desdobramento, se o corpo diplomático vai conseguir alinhar uma agenda”, avalia Pupo à CNN.

“Tomara que aconteça. Precisa iniciar conversa para tirar todo esse mal estar que se encontra”, pontua.

Um interlocutor do setor privado reitera que o momento é de esperar para ver, até pelo fato de ainda não se saber exatamente o que, como e quando será discutido.

Sua avaliação é de que tudo vai depender do quão fechado Trump está, de fato, com Bolsonaro. Na carta em que anunciou a tarifa de 50% ao Brasil, o presidente dos EUA havia direcionado palavras duras contra o STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a responsabilização de redes sociais no país e o julgamento da trama golpista.

Para este interlocutor, porém, as prioridades e possíveis reivindicações de Trump numa negociação com Lula devem vir na linha de defender os interesses das big techs e do setor de etanol norte-americano.

Desde o início da saga do tarifaço, Washington vem mirando o biocombustível brasileiro, alegando que há injustiças no mercado do Brasil que impedem o acesso do etanol de lá por aqui – a ponto de este ser um dos tópicos observados em uma investigação comercial dos EUA.

Do outro lado, a fonte avalia que Lula deve pedir, principalmente, pelo recuo do tarifaço sob os setores de carne e café. Uma das moedas de troca que aponta no arsenal do governo: minerais críticos.

Essenciais para o desenvolvimento de alta tecnologia e da transição energética, as terras raras são cobiçadas pelos EUA, mas diversas autoridades brasileiras já deixaram claro que o produto não vai sair barato: o interesse é agregar valor e investir em infraestrutura por aqui para depois vender.

Ainda assim, o setor privado segue ansioso pelo diálogo, apostando na conversa e no argumento da complementaridade econômica como as opções mais concretas para o Brasil driblar o episódio.

“A Amcham reafirma sua convicção de que o diálogo é o instrumento mais eficaz para preservar e aprofundar a parceria econômica e comercial entre os dois países, promovendo investimentos mútuos, geração de empregos e fortalecimento das trocas bilaterais.”

Com informações de Caio Junqueira e Thais Herédia, da CNN

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