A atual crise política nos Estados Unidos, marcada pelas recentes ações de Donald Trump, pode ter impactos significativos no cenário político brasileiro, especialmente no isolamento do bolsonarismo, segundo o professor e cientista político Marco Aurélio Nogueira.
O especialista aponta que há um crescente afastamento crítico em relação ao bolsonarismo por parte de diversos setores políticos da sociedade civil e do Congresso. Segundo ele, o movimento se mostra como “promotor declarado das investidas de Trump”, e o argumento de que Trump reage contra uma suposta falta de direitos no Brasil “não se sustenta”.
De acordo com uma pesquisa do PoderData divulgada em julho, 46% dos brasileiros atribuem a culpa do tarifaço à família Bolsonaro; 32% culpavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela imposição das taxas.
Impactos no comércio e na política externa
Nogueira identifica duas possibilidades de mudança significativa para o Brasil neste cenário. A primeira está relacionada ao comércio exterior, com oportunidades para o país diversificar suas relações comerciais bilaterais e se posicionar de maneira mais estratégica no cenário internacional.
Esta mudança, para Nogueira, poderia resultar em uma nova orientação da política externa brasileira. “Isso vai promover uma inflexão no Itamaraty, podendo nascer uma nova visão estratégica sobre os Estados Unidos e a comunidade internacional.”, explica o professor.
A segunda possibilidade, considerada crucial pelo cientista político, é a potencial transformação do bolsonarismo em um “componente tóxico” da política brasileira. Este processo poderia levar a um distanciamento entre a direita tradicional e a extrema direita, especialmente devido à associação com as ações de Trump.
“Quanto mais o bolsonarismo se agarra aos movimentos de Trump, mais difícil fica a situação dele com a sociedade e particularmente junto aos políticos do país”, afirma.
Nogueira sugere que, caso este afastamento se concretize, pode haver espaço para a emergência de uma nova centro-direita no país. “Se souberem dosar as postulações e se movimentar com inteligência no campo político, poderá funcionar como um fator de agregação democrática”, diz o professor.
Isso abriria espaço para um “plano de governo que coloque o país nos trilhos e dissolva a polarização que vimos nos últimos anos.”
WW Especial
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